Quem nunca quis ter a mesa repleta de amigos de longas datas e ou até mesmo os de datas recentes, para compartilhar as conquistas e também da companhia? Enquanto um alegra o riso dos que apenas se entreolham confiantes, outros servem um Malbec nas cortesãs taças de vinho. O riso farto, a descontração e o frio do inverno que tanto aproximam as pessoas é o mesmo clima que trás para de si a jovialidade que o verão reserva. Quem nunca quis uma safra especial de bons amigos para ter a quem contar as velhas histórias de sempre, o dia-a-dia que nem sempre acontece como o planejado e até mesmo a esperança de que aquele amor que partiu não tarde voltar. Não dá para explicar, mas todos nós temos a certeza de que o ser humano não nasceu para viver só, assim como o fruto da videira não nasceu para estar sozinha no cacho da parreira onde destila doçura e embala ao vento o vinho que ainda dorme na uva.
Ter amigos é ter um livro cheio de historias por contar e de tantas mais para viver que francamente não caberia guardar em um coração, por isso é que precisa de tantos a sua volta. Armazenar alegrias em barris de carvalho é o bem maior que temos e o que nos torna fortes, feito os pés que calçados no chinelo sujo de barro encontra a paz e o prazer no suor do trabalho.
O tanino do vinho que apura o paladar, a cor rubra do tinto que exprime tanta sutileza são como ombros largos dos amigos que contam os dias para estarem ao nosso lado, feito um Merlot que nasce no brindar de pessoas que a gente nem imaginaria conhecer, mas que melhoram a vida no exato momento em que chegam até ela.
Dá vontade de querer a mesa repleta de amigos, de taças erguidas para o alto, mesmo sem ter um motivo, senão apenas pelo prazer de estarem juntos reunidos. Impossível contar quantas gotas cabe numa garrafa de um Malbec, da mesma forma, não se podem contar quantos amigos caberiam na curva do braço.
Tão suave e oportuno; cintilante como um toque, mas acolhedor como um abraço, assim segue a vida de quem abre um bom vinho, tendo no assento da mesa com um par de amigos para contar as prosas e rir um pouco dessa vida que vive tirando uns sarros de nós.
Na taça, um Malbec trás tanta alegria que o homem deitado sobre a luz da lua, imagina que a solidão é um mal que termina já no primeiro gole, e que ninguém mais está sozinho, até mesmo porque sob os pés dos vinhedos jamais nasceu um vinho de uma uva só.
Saudemos com um brinde os amigos que fazem da nossa vida a melhor que poderia ser. Sem eles, nossa existência seria triste e nossa adega estaria vazia. Na taça ou na garrafa, o homem não morre só enquanto o vinho não acabar, portanto sejamos felizes antes do dia terminar.
(Joel Thrinidad )
